Carlos da
Gentileza Mendes é, dos cinco, o único fumador. Pode parecer irrelevante que o
seja, mas não é. Fumar é uma forma de estar sozinho consigo mesmo, mas estando
distraído de si. É uma actividade, portanto, mais ou menos análoga à actividade
de imaginar, salvo a subtil mas importantíssima diferença de não se estar
atento à solidão. Quem fuma deposita parte do pensamento nas baforadas com que
se sacia e nos rodopios que o fumo faz pelo ar; pode até esforçar-se por pensar
muito profundamente na pessoa que é, mas todos os pensamentos são regulados
pela actividade externa de engolir e expelir fumo durante uns minutos. Quem
imagina, por outro lado, tem como única distracção aquilo que encontra dentro
da caverna para onde orienta o pensamento; nada há de externo que o desvie do
seu abismo interior.