26/12/2014

Res Scriptae - Pais e Filhos


Havia nações em que era costume os filhos matarem os pais e outras nas quais os pais matavam os filhos, para evitarem os inconvenientes que um dia poderiam causar uns aos outros, pois, por natureza, a prosperidade de um depende da ruína do outro. Havia filósofos – como testemunha Aristipo – que desdenhavam deste laço natural. Quando alguém insistia na afeição que um pai em particular devia aos seus filhos, uma vez que eles tinham vindo de si, ele começava a cuspir, dizendo que aquilo também tinha vindo dele, e que nós também criamos piolhos e vermes. E havia aquele outro que Plutarco tentou reconciliar com o seu irmão. ‘Eu não tenho de gostar mais dele’, dizia ele, ‘por ter saído do mesmo buraco que eu’.

tirado de “Sobre a Amizade”, Michel de Montaigne



18/12/2014

Ad Hominem (2) - Gonçalidades


GONÇALIDADES

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar as vozes mais banais.
Incrível! Já rasguei ao todo três jornais
Enfurecidamente.

Dói-me a cabeça. Arranco dela alguns cabelos:
Que bem se diz do mau professor de ginástica!
Aclamam-lhe os enredos e a dicção fantástica.
Quanto a enganos, nem vê-los!

Sentei-me à secretária… Ali defronte engoma
A camisa ao marido, não deixando um vinco,
Uma esposa esmerada já com netos cinco.
Tem hoje um hematoma…

11/12/2014

Ipsis Verbis (12)



O homem era nado e criado para viver na inquietação, ou na letargia do aborrecimento.
Voltaire, Cândido
 

27/11/2014

Ave Atque Vale (5) - Lewis Carroll


 
“Levai essas almofadas – não preciso mais delas.”

(últimas palavras de Lewis Carroll [Charles Lutwidge Dodson], na véspera de uma bronquite o vencer, a 14 de Janeiro de 1898)

tirado de: Immortal Last Words: History’s Most Memorable Dying Remarks, Deathbed Declarations and Final Farewells

16/11/2014

Res Scriptae - As Rimas de Camões

Contam os velhos, de terem ouvido outros velhos a contá-lo, que um dia um taberneiro espertalhão, dono de uma velha taberna aonde, todos os fins de tarde, ia o velho Camões, achou maneira de tramar o poeta. Sabendo da facilidade com que ele rimava até as mais esdrúxulas palavras, julgou o taberneiro ter arranjado vocábulo a que Camões não soubesse dar rima e, gritando trocista de baixo para o primeiro andar, para que o ouvisse de onde estava, disse: ‘Ó Camões, ofereço uma pipa de vinho se souberes com que rimar a palavra “Índia”!’ Sem fazê-lo esperar, engoliu Camões de um trago o vinho que tinha na caneca e gritou para baixo: ‘Pois bem, então guinde-a!’