24/02/2014

In Hoc Tempore - Columbofobia



Não obstante os tempos de crise, já deve o caríssimo leitor ter reparado que tem proliferado, nos últimos meses, a nobilíssima profissão dos músicos ambulantes. Estes indivíduos, que antes de serem músicos eram coitados, e que antes de serem coitados devem ter sido aprendizes de coitado, não nasceram certamente a saber do ofício musicado. Primeiro – creia o leitor – tiveram com certeza de notar que em maltrapilhos sentados em vão de escada, berma suja ou rua por onde passa quem anda nem quem por acidente neles tropeça neles repara. De seguida, tiveram de aprender também, ainda preguiçando na posição sentada, que gemer quando alguém aparece mais afugenta que atrai. Da descoberta de que sem esforço não há recompensa passaram decerto a descobrir que dobrar-se na direcção de quem vem a chegar, de preferência ralhando qualquer coisa ao mesmo tempo, obriga o transeunte apressado a assustar-se.

16/02/2014

Res Scriptae - O Barbeiro Tagarela


Um tagarela estava a aparar a barba do Rei Arquelau da Macedónia e perguntou: “Como é que devo cortá-la?”. “Em silêncio”, respondeu o rei.

tirado de: Greek Wit: a Collection of Smart Sayings and Anedoctes translated from Greek Prose Writers

06/02/2014

Prima Facie (1) - "Ídolo"

A palavra “ídolo”, que em português se refere geralmente à imagem de uma divindade a que se presta culto ou, figuradamente, a uma pessoa que se admira, tem como origem a palavra grega “eidolon”, que designa uma “imagem insubstancial”, um “fantasma” ou um “simulacro”.

03/02/2014

Qui Sumus (2)



Quererá decerto saber a contemporaneidade que, involuntariamente passando, der com a vista nas palavras destes cinco homens incomuns, quem são, o que faziam antes de fazerem o que aqui fazem, e aquilo que, aleitando a curiosidade futura, podem deles esperar daqui para a frente. A primeira coisa que deve o leitor ficar a saber é que, se falar posso em nome de cada um, são todos eles muito distintos uns dos outros. Pelo absurdo que seria explicar com duas ou três frases aquilo por que se distinguem, contente-se quem puser leitura nestas linhas em acreditar no que lhe digo. São diferentes uns dos outros, e a seu tempo se perceberá como. Por agora, será útil ao mesmo tempo que é amável dar a quem lê as curtíssimas notas biográficas com que lhes foi pedido que apresentassem a pessoa que são, o que têm por costume fazer e em que moldes será o contributo que aqui pretendem regularmente deixar. Escolhido que fui para as reunir e fazer circular, não passaram por mim essas notas biográficas sem que lhes desse um cunho que não tinham. Fique, portanto, o leitor desde já avisado de que, se eu disser que fulano é isto e aquilo e, se por infelicidade se vier a comprovar que não é, é a mim e só a mim que deverá vir pedir contas. Para ser honesto, confesso que não fiz muito caso daquilo que quis cada um dos colaboradores do Sed Contra divulgar a respeito próprio, e que preferi dizer deles o pouco a que, pelo acidente de os conhecer – a uns melhor do que a outros, é certo –, posso dar apontamento. Começo, como começaria quem quer que se soubesse exemplo a seguir, por aquilo que há a referir acerca de quem sou, deixando para ocasiões vindouras o que de mais interessante houver a dizer dos colegas com quem divido a honra de aqui poder largar, com a frequência possível, a açucarada seiva de ser alguém.