26/03/2014

Prima Facie (2) - Auto-deprecação ou Auto-depreciação


Não é incomum ouvir dizer que fulano tal é dado à auto-deprecação, querendo com isso insinuar que costuma rebaixar-se ou maldizer-se. Ora, o substantivo "deprecação" (do latim “deprecatio”), designa o acto de deprecar (do latim “deprecari”), verbo que, por sua vez, significa "suplicar", e a raiz da palavra é o substantivo “prece” (do latim “preces”). Se uma deprecação é uma súplica, a auto-deprecação consiste em suplicar a si mesmo, o que é manifestamente diferente de dizer mal de si mesmo. Alguém que não dá o devido valor à pessoa que é, que possui o hábito de desdenhar de si mesmo, é dado, isso sim, à auto-depreciação, pois não é o verbo “deprecar” mas o verbo “depreciar” (do latim “depretiare”), cuja raiz é o substantivo “preço” (do latim “pretium”) que significa diminuir o valor ou o preço de alguma coisa. O equívoco, cada vez mais comum, está com certeza ligado à influência cada vez maior da língua inglesa no espaço nacional, pois em inglês, por qualquer engano inicial, “to deprecate” passou há muito a poder significar o mesmo que “to depreciate”, e o termo correcto para referir “auto-depreciação” é, de facto, “self-deprecation”.

18/03/2014

Ipsis Verbis (4)




Sofro muito! O que constituía a alegria e a ventura da minha existência, essa força divina e vivificante que criava mundos em roda de mim, desapareceu!

Johann Wolfgang von Goethe, A Paixão do jovem Werther

13/03/2014

Sed Contra - Um Quase Charlatão



I

Quando Júlio César atravessou o Rubicão, proferindo o imortal alea jacta est com que entregava a alma magnanimamente, e à frente das suas legiões em Roma entrou em triunfo, nenhum patrício se distraiu de aclamá-lo. Podendo o esforço chegar a tanto, imagine quem o conseguir que na cidade das sete colinas, já não a primeira imperando estendida sobre o Lácio, mas uma réplica, à escala, onde aportou sem querer um dia o traiçoeiro vencedor de ciclopes, entrava um dia, montando não o seu nobre Genitor, mas uma carruagem puxada por asnos a quem se lhes deu, talvez por erro, o dom da fala, um outro Júlio César, mais gordo, risonho, e desajeitado. Imagine de seguida, com a paciência que tiver reservado para o feito, que a este César barrigudo recebia a plebe com uma ovação ainda mais estridente, alguns beijando-lhe o anel no dedo, outros estendendo-lhe a mão humilde, uns quantos trocando palmadinhas de amigo, mas todos numa histeria tal que, se houvesse genuflexório onde deixassem pousar os joelhos, seria na posição católica que o saudariam.

01/03/2014

Ave Atque Vale (2) - Luís XVI de França


 “Morro inocente de todos os crimes de que sou acusado. Perdoo aqueles que causaram a minha morte; e peço a Deus que o sangue que vão derramar nunca mais se veja em França.”

(últimas palavras de Luís XVI de França, momentos antes de ser guilhotinado, a 21 de Janeiro de 1793)

tirado de: Immortal Last Words: History’s Most Memorable Dying Remarks, Deathbed Declarations and Final Farewells