Não é incomum
ouvir dizer que fulano tal é dado à auto-deprecação,
querendo com isso insinuar que costuma rebaixar-se ou maldizer-se. Ora, o
substantivo "deprecação" (do latim “deprecatio”), designa o acto de deprecar (do latim “deprecari”), verbo que, por sua vez,
significa "suplicar", e a raiz da palavra é o substantivo “prece” (do
latim “preces”). Se uma deprecação é uma
súplica, a auto-deprecação consiste
em suplicar a si mesmo, o que é manifestamente diferente de dizer mal de si
mesmo. Alguém que não dá o devido valor à pessoa que é, que possui o hábito de
desdenhar de si mesmo, é dado, isso sim, à auto-depreciação,
pois não é o verbo “deprecar” mas o verbo “depreciar” (do latim “depretiare”), cuja raiz é o substantivo
“preço” (do latim “pretium”) que
significa diminuir o valor ou o preço de alguma coisa. O equívoco, cada vez
mais comum, está com certeza ligado à influência cada vez maior da língua
inglesa no espaço nacional, pois em inglês, por qualquer engano inicial, “to
deprecate” passou há muito a poder significar o mesmo que “to depreciate”, e o
termo correcto para referir “auto-depreciação” é, de facto, “self-deprecation”.
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