Havia
nações em que era costume os filhos matarem os pais e outras nas quais os pais
matavam os filhos, para evitarem os inconvenientes que um dia poderiam causar
uns aos outros, pois, por natureza, a prosperidade de um depende da ruína do
outro. Havia filósofos – como testemunha Aristipo – que desdenhavam deste laço
natural. Quando alguém insistia na afeição que um pai em particular devia aos
seus filhos, uma vez que eles tinham vindo de si, ele começava a cuspir,
dizendo que aquilo também tinha vindo dele, e que nós também criamos piolhos e
vermes. E havia aquele outro que Plutarco tentou reconciliar com o seu irmão.
‘Eu não tenho de gostar mais dele’, dizia ele, ‘por ter saído do mesmo buraco
que eu’.
tirado de “Sobre a Amizade”, Michel de Montaigne