Não obstante os tempos de crise, já deve o
caríssimo leitor ter reparado que tem proliferado, nos últimos meses, a
nobilíssima profissão dos músicos ambulantes. Estes indivíduos, que antes de
serem músicos eram coitados, e que antes de serem coitados devem ter sido
aprendizes de coitado, não nasceram certamente a saber do ofício musicado.
Primeiro – creia o leitor – tiveram com certeza de notar que em maltrapilhos
sentados em vão de escada, berma suja ou rua por onde passa quem anda nem quem
por acidente neles tropeça neles repara. De seguida, tiveram de aprender
também, ainda preguiçando na posição sentada, que gemer quando alguém aparece
mais afugenta que atrai. Da descoberta de que sem esforço não há recompensa
passaram decerto a descobrir que dobrar-se na direcção de quem vem a chegar, de
preferência ralhando qualquer coisa ao mesmo tempo, obriga o transeunte
apressado a assustar-se.
24/02/2014
16/02/2014
Res Scriptae - O Barbeiro Tagarela
Um
tagarela estava a aparar a barba do Rei Arquelau da Macedónia e perguntou: “Como
é que devo cortá-la?”. “Em
silêncio”, respondeu o rei.
tirado de: Greek Wit: a Collection of Smart Sayings and
Anedoctes translated from Greek Prose Writers
10/02/2014
06/02/2014
03/02/2014
Qui Sumus (2)
Quererá decerto
saber a contemporaneidade que, involuntariamente passando, der com a vista nas
palavras destes cinco homens incomuns, quem são, o que faziam antes de fazerem
o que aqui fazem, e aquilo que, aleitando a curiosidade futura, podem deles
esperar daqui para a frente. A primeira coisa que deve o leitor ficar a saber é
que, se falar posso em nome de cada um, são todos eles muito distintos uns dos
outros. Pelo absurdo que seria explicar com duas ou três frases aquilo por que
se distinguem, contente-se quem puser leitura nestas linhas em acreditar no que
lhe digo. São diferentes uns dos outros, e a seu tempo se perceberá como. Por
agora, será útil ao mesmo tempo que é amável dar a quem lê as curtíssimas notas
biográficas com que lhes foi pedido que apresentassem a pessoa que são, o que
têm por costume fazer e em que moldes será o contributo que aqui pretendem
regularmente deixar. Escolhido que fui para as reunir e fazer circular, não
passaram por mim essas notas biográficas sem que lhes desse um cunho que não
tinham. Fique, portanto, o leitor desde já avisado de que, se eu disser que
fulano é isto e aquilo e, se por infelicidade se vier a comprovar que não é, é
a mim e só a mim que deverá vir pedir contas. Para ser honesto, confesso que não
fiz muito caso daquilo que quis cada um dos colaboradores do Sed Contra divulgar a respeito próprio,
e que preferi dizer deles o pouco a que, pelo acidente de os conhecer – a uns
melhor do que a outros, é certo –, posso dar apontamento. Começo, como
começaria quem quer que se soubesse exemplo a seguir, por aquilo que há a
referir acerca de quem sou, deixando para ocasiões vindouras o que de mais
interessante houver a dizer dos colegas com quem divido a honra de aqui poder largar,
com a frequência possível, a açucarada seiva de ser alguém.
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